Luz ao fundo do túnel!

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Liberdade constitucional

Ao longo dos últimos dias tenho comentado noutros blogs sobre um facto: casamento gay.
Aqui não pretendo defender o casamento gay. Pretendo defender a liberdade de uma pessoa poder viver a sua vida sem que isso tenha consequências nas vidas dos que os rodeiam. Tanto quanto isso é possível. Mas irei usar o dito casamento como exemplo do atropelo diário às liberdades de um ser individual a viver em "sociedade".
Com muita liberdade de pensamento que os meus pais me deram, considero que consegui atingir um equilíbrio que poucos neste mundo consiguiram atingir. E ainda tenho muitos anos pela frente (espero).
Enquadrando. Fiz os meus primeiros 9 anos numa escola católica. Terminei o 2º ano do ciclo (6º ano hoje em dia) com nota máxima a tudo excepto uma: Relegião e Moral. Já nessa altura questionava o Pdr. Manuel Joaquim e os seus ensinamentos catequistas. Não me conseguiu convencer que Deus existe. Nem com a lenga-lenga do ovo e da galinha. Quando nos disse que Deus existia por que algo tinha criado o mundo perguntei-lhe quem tinha criado Deus. Diga-se que ele mudou de assunto. Um puto de 11 anos conseguiu deitar por terra um argumento, no mínimo, ridículo.
Desde esse dia decidi que iria questionar tudo o que me quisessem impor. E decidi também que esperaria pela morte para descobrir se Deus existe. Não iria gastar o meu tempo de vida em busca de algo que não teria resposta em vida.
Aprendi também a questionar a bondade das pessoas quando nos oferecem algo. Há sempre algo que querem em troca. Nem que seja afecto. 
Considero que toda a nossa liberdade é etiquetada desde o momento em que nascemos. Ou seja, não temos nenhuma. A não ser que a questionemos. Que questionemos tudo. Toda a informação que nos é dada vem de algo ou alguém com uma perspectiva. Cabe-nos definir o que devemos ou não absorver.
Todas as ideias e conhecimento que possuo hoje são fruto da junção de ideias de muitas pessoas que eu espremo e acrescento às minhas. Absorvo aquilo que considero útil. E já mudei de sentido em relação a muita coisa.
Mas uma coisa a que me tenho mantido fiel é que não tenho o direito de escolher como os outros devem viver a sua vida.
Quando aceitamos como dado adquirido certos conceitos sociais cometemos uma falha grave. Não por estaram errados. Mas porque não os questionamos.
Quando oiço pessoas comparar casamento gay com a poligamia ou com casamento incestuoso dou-lhes razão. Tem tudo a ver. Já se questionaram porque é que o incesto é proíbido? Já se perguntaram porque é que a poligamia não é permitida?
Porque é "feio"?
Porque não é natural?
Porque é pecado?
Há sociedades em que são ou foram permitidas.
Acho irónico colocarem os primos direitos no mesmo barco. Os meus bisavós eram primos direitos. Talvez tenham ido parar ao inferno. Talves por isso os encontre quando morrer...
Fartei-me de rir com gosto com um argumento pró-casamento gay: todos os homossexuais são filhos de heterossexuais. Uma verdade inegável. Será dos genes torpes dos pais? São pais pecadores e Deus castigou-os? Quando chegar ao inferno hei de lhes perguntar...
Sou a favor que a igreja defenda os seus pensamentos e ideias. Mas não que os tente impor a uma sociedade. Até sou defensor de muitas das ideias de Cristo. Ou que dizem que ele teve. Se é que ele realmente existiu. Há muitas que são boas.
E assim como não admito que a igreja decida como eu devo viver a minha vida, não tolero esta constituição torpe cheia de imposições duma sociedade ainda agrilhoada a certos preconceitos.
E para aquelas pessoas que defendem o referendo pergunto - Quem é que referendou para que as mulheres pudessem votar? Ou para deixariam de ser propriedade dos maridos?
Quem é que referendou para que a escravatura fosse abolida?

E quem é que referendou que o casamento entre pessoas do mesmo sexo fosse proibido?

Quem é que referendou a nossa constituição?

E que os jogos se iniciem! - diria o Nero

2 comentários:

  1. Agrilhoada, é bonito!
    Mas concordo plenamente contigo. Não consigo compreender porque razão alguém tem que mandar na minha vida e ditar se eu posso, ou não posso, casar com quem bem me apetecer.
    Quanto ao incesto, a conversa muda um bocadinho de tom, se houver procriação. A consanguinidade pode acarretar mal-formações genéticas graves (dizem os entendidos).
    Poligamia não tem mal absolutamente nenhum, excepto que, por norma, o ser humano com direito a ter vontade própria (excluam-se, portanto, os seguidores de certas religiões) não gosta de partilhar o que é seu! O meu homem é o meu homem e mais nenhuma galdéria lhe deita a mão (pelo menos, debaixo do meu nariz)... e quem diz o meu homem, diz a minha mulher, claro! Além disso e partindo do pressuposto de que estamos a falar da poligamia mais "habitual" (um homem com várias mulheres), coloca-se uma vez mais a questão da procriação: tu queres muitas mulheres, mas queres filhos delas todas? E como é que sabes que os filhos são teus? A não ser que as tranques a sete chaves, como podes saber por onde andam (e com quem), durante o tempo que em que não estás com elas? Já com uma é impossível...
    Aponto apenas motivos práticos e não tenho qualquer tipo de agenda socio-politico-religiosa. Mas continuo a dizer que cada um deve ter a liberdade de viver conforme se sentir mais feliz e desde que isso não prejudique ninguém.
    E não vejo como é que homens a viver com homens ou mulheres a viver com mulheres, pode prejudicar seja quem for!

    ResponderEliminar
  2. Todos os teus argumentos apontam num sentido: um egoísmo inato, um sentido de posse fruto das nossas origens animais, irracionais. Excepto no incesto.
    Quando perguntava se já tinham ponderado as razões não estava a dar uma resposta mas simplesmente a questionar.
    Podemos levar a discussão mais além e discutir o casamento!
    O contrato celebrado entre duas pessoas não fala sobre prole. Limita-se a um comprometimento entre duas partes. Logo a prole nem sequer deveria entrar nesta discussão. E, só para encerrar a prole, quando o argumento utilizado pelos defensores do casamento tradicional, nomeadamente a adopção, é uma bojarda preconceituosa de proporções universais, toda a discussão fica inquinada.
    Em relação à fidelidade entre os "grupos casados": se não houvesse limitações em relação ao número de parceiros numa união, não haveria sequer esse problema... logo não interessa por onde andam. Digo isto com a noção da diferença entre a teoria e a prática. A começar por mim. É difícil largar instintos de posse da "manada" enquanto nada me impede de lutar pela "sobrevivência da espécie...

    ResponderEliminar