Luz ao fundo do túnel!

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

A Educação

Pois é! Um tema bué da nice!

O título tem educação com E porque quero abordar as duas vertentes da palavra: a educação no sentido da aprendizagem e no sentido das boas práticas em sociedade.

Em primeiro lugar a educação escolar.

Há quem pense (os nossos estimadíssimos governantes) que basta saber ler. Ia dizer escrever mas nem isso se sabe hoje em dia. Até há uns anos atrás eu considerava-me um péssimo escritor. Um dos meus irmãos gozava-me constantemente por escrever atabalhoadamente. Com muitos erros gramaticais. É verdade que nunca precisei de um verificador ortográfico na escola e nunca tinha erros em ditados. E estou a falar da 1ª classe onde aprendi a ler, escrever sem erros ortográficos, a somar e a subtrair. Tenho certeza que muitas das crianças que estão hoje na 4ª classe não conseguem fazer o mesmo.

Porquê?

Porque não se exige que os alunos aprendam.

Porque se facilita tudo. Quando muitos não conseguem atingir a excelência, baixa-se o padrão da mesma. Trabalha-se para as estatísticas.

Vivemos num país em que o mais importante é o título que colocamos à frente do nome. Este é o verdadeiro objectivo nacional. Mesmo que para isso se baixe os padrões de qualidade e exigência. Banalizando a excelência...

Há títulos que são verdadeiramente merecidos. Um doutorado ou um professor catedrático, etc. São títulos que levam anos de trabalho e com qualidade suficiente para que se possa exigir o direito de ser tratado como tal. O mais engraçado é que normalmente as pessoas que o obtém não fazem questão de o ser.

Existe na nossa sociedadezinha uma subordinação ao título e não à competência individual. Ninguém admite ter um superior hierárquico que não seja engenheiro ou doutor. Por outro lado, o "doutorzeco" tem a mania que tem mais valor só porque o é. Neste aspecto gostaria de chamar a atenção aos países civilizados onde o respeito é merecido, com base nas atitudes e acções de cada um. Só saberei se alguma pessoa a trabalhar nos EUA é licenciado, etc. se lhe perguntar. De outra forma ficarei limitado a saber o seu nome. Cá no Portugalzinho, assim que se termina o curso superior, já se requer que se trate por dr. ou engº. Nos EUA pagam salários conforme a universidade que se frequentou, que grau se atingiu etc.. Mesmo que se continue a desempenhar o mesmo cargo, é dado um aumento ao empregado que tirou um mestrado ou outro grau, simplesmente porque é uma pessoa mais bem preparada e mais apta para ter um desempenho melhor. Claro que isto é contextualizado e nem sempre verdade. Não se paga mais ao empregado de balcão porque terminou o liceu e nem todas as empresas têm capacidade financeira para suportar estes aumentos. Aquelas que realmente são competitivas fazem-no para manter uma pessoa competente e mais bem qualificada porque conhecem a verdadeira essência do que é a produtividade.

De volta ao tema. Já verificaram que ambos os tipos de educação estão interligados (tenho consciência que isto parece uma palestra, mas não é essa a minha intenção).

Embora pareça uma contradição das minhas palavras anteriores, a verdade é que nem sempre a boa educação é "posse" dos mais instruídos. Não é preciso ter um grau universitário para se ser mais bem educado. E aqui está um facto que me faz pensar e tirar algumas conclusões.

A boa educação (moral) está intimamente ligada ao egoísmo. Normalmente, as pessoas mais educadas (escolar) são menos egoístas pois aprendem melhor que existe mundo para além do umbigo. Apreendem melhor o conceito de dar e receber. Claro que é importante a bondade e a generosidade inata. Mas não me interessa focar este aspecto neste momento uma vez que não se educa.

O egoísmo não permite que se admita que existe outra opinião para além da nossa.
Causa a falta de respeito e, em consequência, a má educação.

Esse egoísmo começa em casa. Ao se exigir da criança e premiá-la quando não cumpre. Ao querer que não falte nada à criança retiramos-lhe a necessidade do esforço para obter algo. Aprende que não precisa de dar para receber. Não repeita quem lhe dá pois sabe que irá receber na mesma. Ao não criarmos uma hierarquia criamos uma pessoa que nunca se irá adequar a um local de trabalho onde tem de cumprir os seus deveres impostos por alguém acima. Muitas das vezes alguém com uma educação semelhante que irá desrespeitar os subordinados da mesma forma que foi desrespeitado (uma excepção de "generosidade" excessiva e pela negativa...).

Há uns tempos atrás a minha mulher viajou pela Dinamarca. Encontrou um quiosque a meio do caminho entre duas vilas. Esse quiosque tinha lá dentro legumes e fruta. Tinha uns sacos de plástico, uma balança, uma calculadora e uma outra caixa. A caixa tinha, imagine-se, dinheiro! Era algo semelhante a uma loja de conveniêcia aberta 24H por dia. Sem ninguém! Sem nenhum empregado! Quem precisasse, pesaria o que pretendesse levar, deixaria o dinheiro (havia trocos e tudo!) e iria para casa fornecido. Cá em Portugal até o quiosque desapareceria de certeza. Justiça seja feita: em quase qualquer parte do mundo isto não resulta. Incluindo nos grandes centros dinamarqueses...
Refiro este pequeno exemplo como algo grandioso a que todos, em todo o lado, devemos aspirar.
Se é possível na Dinamaca, porque não é possível aqui?
Tendo consciência e uma quase certeza que jamais será possível em Portugal, mas sei que devo ter isso como objectivo e tentar partilhá-lo com todos!
Só mudaremos algo se o objectivo for grande! Não podemos baixar os braços admitindo derrota. Temos que travar diversas batalhas com objectivos mais pequenos mas sempre com o objectivo maior de ganhar a guerra!

Para quem lê este blogue e leu as minhas mensagens anteriores pejadas de pessimismo, deixo-vos aqui umas palavras optimistas: é possível mudar!!!

1 comentário:

  1. Nuno, apesar de concordar com o conteúdo do teu texto e partilhar da tua (justa) indignação pela falta de educação do portuguesinho, tenho que discordar completamente no que toca à tua referência aos Americanos. Tendo trabalhado directamente com eles (enquanto clientes), durante vários anos, devo dizer que a sua arrogância e soberba no que diz respeito a títulos académicos, é extrema. Acho até que já tive oportunidade de te contar um dos inúmeros episódios porque passei à conta disso e que me ficou bem marcado. Estando eu, uma bela manhã, na recepção, sou abordada por um casal que se identificou dando-me o número do quarto. Ao verificar no sistema informático que o senhor se chamava (e agora vou inventar, uma vez que já não recordo o nome verdadeiro) Smith, dirigi-lhe um sorriso e perguntei: como posso ajudá-lo Mr. Smith? Que fui eu dizer?!?!? Ia caindo o Carmo e a Trindade! A Sra. Smith lançou-me um olhar gelado (ou seria esgazeado?) e diz muito depressa (debruçando-se sobre o balcão, que por sorte lá estava, senão tinha-me caído em cima): MR Smith não, DR Smith, que o meu marido tem dois cursos superiores!
    E acredites ou não, este casal não era a excepção; faziam parte da regra! Não, não é só o portuguesinho... é também o americanozinho e outros "inhos" que tal!
    Já falando de coisas mais simpáticas, quando eu vivi em Guernsey tive ocasião de observar o mesmo "fenómeno" que a Ana observou na Dinamarca, mas não era um quiosque, era à entrada das casas. Dependendo do que cada pessoa produzisse no seu quintal (flores, legumes, fruta, ovos, etc) punham uma mesa ao portão, normalmente já com as coisas pesadas e ensacadas ou divididas por molhos, em cima, uma tabuleta com o preço e a dita caixinha com trocos e cada um se podia servir. Na altura imaginei que aquilo só podia existir numa ilha assim pequena... mas, pelos vistos, estava enganada! ;o)

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